As mantas de lã alentejanas
O outono chegou e trouxe consigo cores fabulosas e sabores incomparáveis. É o tempo das folhas cairem, das castanhas amadurecerem, dos cogumelos surgirem e dos olivais generosamente darem o seu fruto. São os dias mais pequenos e por volta das cinco da tarde parece que já anoiteceu. É o tempo do céu carregado, em tons de cinzento e alguns aguaceiros começam a brindar a terra.
Em 2018 o equinócio de outono ocorreu no dia 23 de Setembro (às 02:54 horas). Este instante marca o início da estação no hemisfério norte. E prolonga-se por 89,812 dias até ao próximo solstício que ocorre no dia 21 de dezembro(às 22:23 horas).
O sol parece estar envegonhado e as temperaturas descem na região do Alentejo. O quotidiano das gentes acompanha as transformações da natureza. Em casa as lareiras começam a crepitar como companheiras incansáveis que animam os serões frios. O sono parece chegar mais cedo, procurando o aconchego das mantas de lã que já estão colocadas nas camas. E são fabulosas e únicas estas mantas de lã de ovelha. Peças únicas, feitas com arte e mestria, fios de lã entrelaçados nos teares por mãos hábeis como se fizessem magia.
No livro que apresentei em 2018, “Santa-Barbara de Padrões- A Identidade de uma Freguesia” dedico parte importante de um capítulo ao artesanato e ás mantas de lã.
Entre o Guadiana e a Serra do Algarve numa tradição milenar, tornou-se hábito desenvolver massivamente a atividade da tecedeira, a tecelagem. Tal se explica graças às elevadas quantidades de lã de ovelha dos rebanhos existentes e a dos que chegavam na rota das transumâncias. Esta arte que está intimamente ligada ao universo feminino e que era passada de geração em geração não é exclusiva da Freguesia de Santa Bárbara de Padrões. Porém, tem nela grande relevo, visto que, a aldeia do Lombador foi provavelmente dos locais ou o local que manteve esta arte até à contemporaneidade. É de referir, também, que em toda a Freguesia se registou esta atividade até porque era muito importante para a mulher campaniça conseguir fazer um “pé-de-meia” com a comercialização na Feira de Castro, por exemplo. Não servia, assim, apenas para formar um enxoval para si e para os filhos ou para agasalhar os moirais que iam guardar os rebanhos. Estas tradicionais mantas de lã eram também uma fonte de rendimento e um desafogo para aquelas famílias ou mulheres que as produziam.
A senhora Esménia e a senhora Mariana foram as duas últimas tecedeiras, entretanto já falecidas, a produzir mantas de lã na localidade do Lombador de forma tradicional.
No Pólo do Lombador do Museu da Ruralidade, criado em dezembro de 2016, é possível apreender todas as fases da sua concepção e apreciar um importante espólio que inclui muitos dos utensílios intervenientes no processo de fabrico, incluindo o tear antigo.
A tecelagem é o ato de tecer, através do entrelaçamento de fios de trama (transversais) com fios de teia (longitudinais), formando tecidos. Para tecer é, obviamente, necessário o tear. No tear fazem-se várias peças destinadas a mantas, alforges, sacos e coadeiros.
Mas, no geral, aquilo que mais se produzia era mesmo as mantas. Tal como nos é revelado no pólo do Museu da Ruralidade, havia dois tipos de manta: as de “trabalho” e as “graves”. As de trabalho eram utilizadas pelos moirais e eram sempre às riscas. As mantas graves tinham vários padrões e tinham, muitas vezes, a espiga como elemento decorativo. Estas mantas eram utilizadas na cama ou então em ocasiões mais solenes.