A tradição religiosa secular de “pedir água aos céus”
Esta é uma das tradições mais emblemáticas da fé dos habitantes e gentes da região em Santa Bárbara de Padrões. Quando as sementeiras pedem água e a seca se instala nas terras do Alentejo é na fé que o povo se refugia, rogando pela a ajuda divina. De uma beleza extraordinária, estes cânticos representam sentimentos e esperança.
Para pedir água era habitualmente realizado o “Encontro das Senhoras” em que a veneranda imagem de Santa Bárbara, que antigamente se encontrava num oratório envidraçado, ia ao encontro da imagem de Nossa Senhora da Graça que pertence à Igreja Paroquial da Graça de Padrões. O encontro era feito no momento em que as imagens se encontravam na estrada, visto que, eram levadas aos ombros e acompanhadas pelos seus fiéis.
Os cânticos são entoados para pedir água a Santa Bárbara e também à Virgem Maria. Os dois primeiros versos, de cada quadra, são cantados por uma só pessoa e os dois últimos por todo o coro.
Santa Bárbara
I
Senhora Santa Bárbara
Virgem Mãe de Deus
Mandai água aos trigos
Seja por amor de Deus
II
Atendei piedosa
Aos nossos gemidos
Mandai sem demora
Água para os trigos
III
Senhora valei-nos
Se não expressemos
Em tão grande aperto
Senhora nos vemos
IV
Senhora não houve
Ais e gemidos
Mandai sem demora
Água para os trigos
V
Água que é requerida
Divina princesa
Peço a Vossa Alteza
Que seja atendida
VI
Senhora Santa Bárbara
E Virgem Maria
Mandai água aos trigos
De noite ou de dia
VII
Senhora Santa Bárbara
É a padroeira
Bradamos por ela
Uma vida inteira
IX
Oh meu Deus Senhor
E omnipotente
Mandai água aos trigos
Manda a Mãe clemente
X
Senhora Santa Bárbara
O que eu mais invejo
Mandai água aos trigos
E para o Alentejo
XI
Senhora Santa Bárbara
Que o tempo tão ruim
Mandai água aos trigos
Que isto está no fim
XII
Que isto está no fim
Vai-se tudo embora
Mandai água aos trigos
Mandai sem demora
XIII
Senhora Santa Bárbara
Está tudo queimado
Mandai água aos trigos
Com o seu mandado
XIV
Senhora Santa Bárbara
Virgem Mãe clemente
Mandai água aos trigos
Lembrai-se da gente
XV
Senhora Santa Bárbara
Que está no seu altar
Mandai água aos trigos
Está tudo a secar
XVI
Senhora Santa Bárbara
E Senhora de Fátima
Mandai-nos a chuva
A que fizer falta
Nossa Senhora do Carmo
I
Senhora do Carmo
Mandou-me um recado
Para me não esquecer
Do Bendito e Louvado
II
Bendito e Louvado
Não me há-de esquecer
Senhora do Carmo
Nos há-de valer
III
Nos há-de valer
Com todo o valor
Rainha dos Anjos
Do Céu Resplendor
IV
Perguntai aos Anjos
Que vêem de Belém
Se a Senhora do Carmo
Nos pagará bem
V
Os Anjos disseram
Que bem nos pagava
Não queremos dinheiro
Nem queremos soldada
VI
Não queremos soldada
Nem queremos dinheiro
Só queremos a bênção
De Deus verdadeiro
VII
As três excelência
Da mãe do Rosário
É o nosso ventre
Jesus sacrário
VIII
Sacrário aberto
E o Senhor vai fora
Var ver uma Alma
Que vai para a Glória
IX
Alma tão ditosa
Tanto sírio tem
São três horas dadas
E o Senhor não vêm
X
Abram-se essas portas
Que além vêm Jesus
De braços abertos
Pregados na cruz
XI
Seus braços abertos
Seus pés encravados
Derramando o sangue
Dos nossos pecados
XII
O chão tremia
Com o peso da cruz
Dizemos três vezes
Salvai-nos Jesus,
Salvai-nos Jesus,
Salvai-nos Jesus.